terça-feira, 4 de setembro de 2007

Ciencias Poliricas -as instituições em dificuldades

As ciencias politicas- Institucionais – as Instituições em dificuldades – as prácticas .., ensaios
Da mesma maneira que o nosso cérebro mantém vivas as reminiscências do réptil, também o modo como percebemos, gerimos e representamos o risco e as suas consequências traumáticas, com recurso às técnicas e às metodologias científicas, evidencia que nesses instrumentos e nesses recursos sobreviveram determinações ancestrais, alojadas no nosso inconsciente colectivo e no nosso património memorial.
Foi esta constatação que nos fez preparar a realização de um mestrado de investigação transdisciplinar, centrado nas ciências sociais, mas com uma explícita intenção de o abrir às ciências de saúde, aquelas onde é mais evidente – do lado das vítimas – a nefasta consequência humanitária da falta de cooperação no prevenir e no gerir uma rede de trauma, capaz de fazer face a situações que temos continuado a tomar como “fatais como o destino”.
O mundo vive uma extraordinária mutação tecnológica, e os novos materiais se reúnem em pastas geneticamente elaboradas e circuitos electrónicos para tantas finalidades. Parecem infinitas, como a nossa ignorância. A ficção científica está a tornar-se realidade, ao mesmo tempo que cada vez mais partes dos nossos corpos são substituídas por outras mais funcionais, ameaçando permitir-nos viver por mais de um século de cada vez. Para gerir e entender tudo isso é precisa cada vez mais inteligência. Inteligência das profissões técnico-cientificas, cada vez mais volumosas. Inteligência dos cérebros computorizados, que assaltam o nosso quotidiano profissional e pessoal. Inteligência emocional, para fins organizacionais em sistemas cada vez mais abertos, para fins sociais em sociedades complexas, em que o modernismo encobre a barbárie, em que os processos de modernização encobrem o empirismo dos poderes fácticos. Inteligência ética, indispensável à felicidade individual e colectiva .v.g( M.J.ramos- est.Automobilização).
Em vez de admitir a paralisia do moderno sistema mundial produtor de mercadorias, os ideólogos e mandarins científicos, no curso dos anos 90, preferiram simplesmente ignorar os problemas incontornáveis da política econômica e se afastar para outro campo, a fim de despertar a ilusão de uma explicação e perspectiva conformistas. Esse novo rumo do "mainstream" intelectual, que de lá para cá foi assimilado mundialmente pela política e pela mídia, foi sendo formado de diversos aspectos e motivos que concorreram para um novo modelo de interpretação.
Primeiro, estamos às voltas com uma mudança básica da moda intelectual e acadêmica nas ciências sociais e humanas. Desde a segunda metade dos anos 80, observa-se o triunfo francês das chamadas teorias pós-modernas e pós-estruturalistas de filósofos, como Lyotard, Derrida, Baudrillard, Foucault e outros.
Apesar de todas as diferenças e antagonismos nos detalhes, reconhece-se um traço comum a essas teorias: o paradigma da economia política foi substituído pelo paradigma do culturalismo. Não é à toa que essa guinada intelectual se prende à guinada social e político-econômica do neoliberalismo. A sociedade não é mais concebida como produto da economia política, mas como produto do "discurso cultural". v.g. (robert Kurz)
O trato econômico e suas instituições deveriam ser investigados em reciprocidade com outras formas de organização, motivos e modelos de acção sociais (direito, tradições, ideologias, religiões, normas, formas de vida e conduta etc.). Por mais correcta que fosse, a princípio, essa crítica ao economicismo unidimensional, ela se revelou rasa demais por não desenvolver nenhum conceito crítico do sistema como um todo, alinhando apenas superficialmente as diferentes formas de ação e suas respectivas instituições. Por isso o institucionalismo de Veblen, concebido como aparato crítico, acabou suscetível a uma positiva instrumentalização.
Essa guinada apologética ficou a cargo da chamada "nova economia institucional" após a Segunda Guerra Mundial, representada sobretudo pelo neoliberal linha-dura James M. Buchanan, que por ela recebeu o Prêmio Nobel em 1986, bem a tempo para empregar o institucionalismo (de penteado novo) como arma de grosso calibre na miséria de justificativas dos anos 90. Buchanan e outros economistas de sua corrente interpretaram o problema das instituições extra-econômicas em oposição a Veblen, bem no espírito do totalitarismo econômico: formas jurídicas, tradições, regras, visões de mundo não são consideradas como neutras em sua relação mútua com a economia capitalista, mas sim de forma normativa, para saber se dão rédea solta ao "homo oeconomicus" ou não. Em outras palavras: a consideração de formas de agir extra-econômicas serve exclusivamente ao propósito de definir pressupostos institucionais ótimos para a liberdade total do mercado.
Mesmo no Japão e nos tigres asiáticos, ainda há pouco celebrados como impressionantes modelos de um triunfante "capitalismo confuciano", quer-se agora distinguir, subitamente, "arcaicas" estruturas de lealdade, autoritarismo contraproducente, corrupção, cleptocracia, clãs econômicos e nepotismo. A relação entre causa e efeito é assim posta de ponta-cabeça, tal como, antes, a relação entre crise e economia de Estado. Na verdade, não é a corrupção, o domínio das máfias, o terrorismo etc. que provocam a crise, e muito menos o antigo pendor pela economia de Estado, mas justamente o contrário: é a crise socioeconômica, fruto do respectivo fracasso do país no mercado mundial, que destrói ou nem sequer permite o surgimento do nexo institucional da "segurança jurídica".
Mas, como a crítica da economia política não se desenvolveu, sendo antes deixada de lado, a lógica basal do sistema não pode mais ser apontada como causa. Mesmo antigos críticos e a maioria das chamadas organizações não-governamentais (ONGs) movem hoje, lado a lado com o Banco Mundial, campanhas anticorrupção ridiculamente ineficazes.
Nas próprias regiões em crise, alunos-modelo, educados no credo intelectual econômico, querem responsabilizar exclusivamente o "atraso cultural" das pessoas pela miséria. Assim afirma, por exemplo, a africana Axelle Kabou, sob o clamoroso aplauso da mídia ocidental, que se deve "desintoxicar a mentalidade africana" e "acertar os ponteiros culturais" do continente devastado. É um tanto triste ver como intelectuais do Sul, "espiritualmente intoxicados" pelo espírito do tempo, adotam sem reservas o antigo clichê colonialista reformulado numa embalagem pós-moderna para coagir precisamente os "supérfluos" cuspidos pelos mercado mundial a uma "cultura da responsabilidade" capitalista.
Regras constitucionais para defesa dos indivíduos contra o "sector público", a segurança jurídica das transações capitalistas e a garantia do direito de propriedade privada ("property rights") e, portanto, a possibilidade de os detentores excluírem outras pessoas da fruição de supostos "bens escassos". Assim, de acordo com o "novo institucionalismo", o fracasso nunca é do mercado, mas somente de pressupostos jurídicos e institucionais falhos.
Nos anos 90, com o culturalismo pós-moderno, nasceu assim o paradigma de uma "cultura econômica" de maior ou menor elevação. Virou moda falar de uma "cultura empresarial" ou de uma "cultura nacional de empreendimento", da "cultura das ações" ou da "cultura da segurança jurídica" de um país. E cedo esse amálgama de economia institucional e culturalismo uniu-se à imagem do novo inimigo global do Ocidente: no lugar do "reino do mal" do capitalismo de Estado no Oriente surgiu uma embrulhada difusa de "Estados patifes", fundamentalistas religiosos, príncipes do terror, bandidos étnicos, máfia transnacional etc.
O professor norte-americano Samuel Huntington, com seu lema da "luta das culturas", forneceu o horizonte interpretativo adequado. Basta ampliar esse contexto à questão da "cultura" institucional e econômica para afugentar o penoso problema das crises e colapsos do âmbito da política econômica -crises e colapsos que se seguiram uns após os outros, a despeito de todas as "reformas mercadológicas": a causa, assim dizem, não é o vitorioso modo de produção capitalista; o verdadeiro problema é que aos "bárbaros" do Sul e do Leste faltam pressupostos institucionais, consciência mercadológica, educação democrática, direitos de propriedade e sobretudo uma "cultura empreendedora". A distinção entre o conhecimento àcerca do contingente (a opinião ou dóxa) e oconhecimento das causas que são necessariamente verdadeiras. A ciência como esforçoracional para substituir a opinião pelo conhecimento.A noção de Wissenschaft como conhecimento rigoroso e objectivo e as regras da metodologica científica. Distância e objectividade. Observação e experimentação. Formalização e sistematização. As propostas de Raymond Aron para a deontologia de uma actividade científica (não seleccionar arbitrariamente os elementos da realidade e não os deformar; não seleccionar arbitrariamente as palavras e as suas definições; não apresentar como certos e precisos fenómenos cuja própria natureza exlui precisamente a precisão; não determinar arbitrariamente o que é importante ou essencial; respeitar a liberdade de discussão e de crítica; praticar o bom uso dos juízos de valor).
As tentativas terceiristas. A classificação de Jean Piaget sobre as ciências sociais e humanas: ciências históricas, ciências jurídicas, disciplinas filosóficas e ciências nomotéticas, as quais procurariam enunciar leis científicas e recorrer ao método de verificação que sujeitam os esquemas teóricos ao controlo dos factos da experiência.